quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Carinhos da Di

Épocas de festas sempre me remetem ao passado. Essa volta ao passado me traz lembranças boas, ruins e boas e ruins ao mesmo tempo. Vou explicar melhor: as lembranças boas normalmente estão relacionadas com a infância quando as festas eram bastante divertidas e alegres. Mas, ao mesmo tempo, essas mesmas lembranças nos causam uma pontinha de dor quando nos fazem sentir saudade de pessoas amadas que já viraram estrelas no céu. Da mesma forma há as lembranças tristes relacionadas a acontecimentos tristes ocorridos na época. Todavia, vou me ater somente às lembranças boas.
Uma lembrança marcante do Natal diz respeito a um papai Noel de chocolate que nossa mãe jamais deixava de nos dar. Ela comprava na padaria e confeitaria "A Paulicéa" na rua Barão de Jundiaí. O papai Noel media aproximadamente 15cm e vinha dentro de um saquinho de plástico transparente. O cabelo, a barba, o pompom do gorro e os enfeites da roupa eram feitos de chocolate branco. O sabor é indescritível, nunca mais comi um chocolate com aquele sabor delicioso, aliás, hoje não existe nada parecido. Era um sabor mágico.
Essa lembrança do papai Noel de chocolate me transporta no tempo e traz à tona outras lembranças felizes que me fazem muito bem.
A nossa mãe era assim: cheia de caprichos e carinhos para com os filhos.
As nossas roupas todas eram confeccionadas por ela. Tudo com enfeites: bordados, pele na gola e/ou punhos, babados, etc. Os casacos de lã eram confeccionados à mão ou máquina. Os filhos 2 e 3 e as filhas 4 e 5 normalmente vestiam roupas iguais. Observe a foto abaixo:


Nessa foto aparecem os filhos de números entre um e cinco. A minha blusa era vermelha feita com o ponto de tricô chamado casinha de abelha em azul e branco. A blusa da número quatro era azul claro. Os casacos dos meninos tinham a gola feita de pele sintética. Tudo confeccionado pela nossa mãe, lindos não é? Lembro-me bem de uma fita de veludo azul marinho bordada para usar na cabeça muito linda!!
Tudo o que ela fazia era planejado e executado com muito amor e carinho!
Para nos sentarmos à mesa ela comprou 5 banquinhos, um de cada cor. A ordem era: branco para a filha número um, preto para o número dois, verde para o numero três, cinza para o número quatro, vermelho para a número cinco. O número seis e sete ainda não tinham nascido.
Os copos com canudinho eram de plástico cor de rosa. Ela escreveu a inicial do nome de cada um embaixo do copo com esmalte de unha também cor de rosa.
Ás vezes ela tinha que ir à São Paulo fazer compras de lã ou materiais para suas confecções ou para levar um de nós ao médico. Ficávamos ansiosos aguardando sua volta, pois sabíamos que ela traria frutinhas de marzipan, balas com recheio de doce de leite e línguas de gato Koppenhagen. Não existem mais frutinhas de marzipan Koppenhagen e o sabor das balas e línguas de gato não se assemelham em nada com aquelas que ela nos trazia.
Nos aniversários não faltava bolo com recheio de leite condensado cozido e ameixas pretas cozidas. Era servido também pão de forma cortado em triângulos recheado com patês variados. Para acompanhar a bebida era ki-suco. A decoração era feita com bexigas coloridas.
Todo sábado, obrigatoriamente no almoço, a mistura era bife à milanesa que, segundo a minha cunhada senhora número dois, de um kilo de carne ela fazia uma infinidade de bifes fininhos e deliciosos.
No inverno, à noite, ela servia chocolate quente maravilhoso.
Quando sobrava arroz no almoço já sabíamos que teríamos bolinhos de arroz ou arroz doce no dia seguinte.
Se sobrava feijão, à noite teríamos sopa de feijão ou salada de feijão bem temperadinha para comer com pão no jantar. Com sobras de músculo, sabíamos que ela também fazia salada bem temperadinha para comermos com pão, uma maravilha!
Tudo era válido em termos de economia. Ela tinha um cinzeiro ao lado do fogão onde, após acender o fogo do fogão ela depositava o palito usado. Depois o palito era reutilizado até o seu fim. O pão velho era torrado e virava farinha de rôsca. A massa de macarrão, pastel, lasagna, pizza era feita em casa. Interessante é que ela pendurava a massa de lasagna no varal para secar. O gnochi era super leve. Ela fazia questão de dizer que o segredo é usar bastante batatas e pouca farinha. A farinha é que deixa o gnochi pesado e a batata não pode soltar muita água.
A maionese também era feita por ela. Aliás, é impossível descrever o sabor da salada de maionese feita por ela, maravilhosa! Como também outras coisas : esfiha; tortas de limão, frango, maçãs; sopas de feijão, ervilhas, cebola, canja, legumes; bolos de beringela, cenoura, pão de ló, chocolate; bolinho de chuva; manjar de coco; doces de leite, abóbora, mamão verde, pêssego; licor de figo; suspiros; pudim de pão; pão de minuto; etc.
Para acompanhar as refeições ela servia sangria: vinho, água e açúcar. Tinha sempre um garrafão de vinho em casa. Às vezes tomávamos ki-suco também.
No Natal não podia faltar: pernil, tender, perú, a coitadinha da leitoa sorrindo com a maçã na boca. Mas, o que dava mesmo briga era o lombo ao molho agridoce. Sobremesa era salada de frutas, uma loucura!
Na Páscoa ganhávamos sempre ovos de chocolate. A minha irmã número sete sempre comenta que em tempos difíceis a nossa mãe comprava um ovo do maior que tinha. Então, ela rifava esse ovo. Para vender os números da rifa ela dizia: compre um número para ajudar uma pobre mãe com sete filhos para criar. Assim, ela pagava os nossos ovos. Até para isso ela tinha bom humor. Mas, todos sabiam que a pobre mãe era ela própria e levavam na esportiva. Teve um ano que ela inventou de fazer uma brincadeira com o meu irmão número seis. Ela embrulhou um mamão com se fosse um ovo de páscoa. Ela sempre entrava em nossos quartos de madrugada e depositava o ovo de páscoa ao pé da cama. Quando o número seis viu o tamanho do ovo dele quase morreu de alegria. Mas, essa alegria se tornou tristeza na mesma proporção quando ele abriu o ovo e descobriu o mamão. A tristeza foi tão grande que causou remorso para a nossa mãe, ela nem gostava de lembrar dessa estória depois que passou o trauma.
Tinham também os remédios caseiros: dor de garganta ela curava com pasta de limão com açucar que o Dr. Cid a ensinou. Dor de barriga de qualquer espécie era curada com leite de magnésia. Para gripe ela fervia o leite e colocava um pouco de cognac. Para ela, um dedo de cachaça misturada com um dedo de suco de limão era tiro e queda como sempre dizia.
Tudo era tão caprichado que até as fatias de pão que ela cortava eram mais gostosas e faziam com que eu e minha irmã número quatro brigássemos para ganhar.
Sempre que ela comprava balas, biscoito ou outras guloseimas a número sete era a responsável por dividir em sete montinhos, um para cada. Tudo era dividido igualmente. Só o irmão número três que sempre tentava inventar que tinha ganhado menos, que ainda não tinha ganhado e outras desculpas para ganhar mais.
É triste não tê-la mais por perto, mas é maravilhoso lembrar o amor que ela dedicava a seus filhos. Ela nos deixou uma lição de doação ao próximo com amor e felicidade nessa doação. Fico feliz por tê-la conhecido e convivido com ela e, mais ainda, como sua filha.
Disso tudo aprendi 3 lições muito importantes: curtir muito as pessoas, festas, a vida enquanto estão todos saudáveis e as coisas estão bem; ser muito agradecido a Deus enquanto temos saúde e podemos dar uma vida boa, saudável e educação a nossos filhos; e procurar viver feliz para amenizar a dor de outras pessoas. A felicidade se resume em mudar as coisas que podemos; aceitar as coisas que nada podemos fazer a respeito e procurar ter a sabedoria para saber a diferença entre as duas coisas!!

10 comentários:

  1. Sil, adorei o texto, muito rico em detalhes.
    Você esqueceu de citar o doce de leite com batata doce, eu particularmente nao gostava mas o irmao numero seis adorava, ehehe.
    Procure contar estorias recentes também no seu blog, acho que tem muita estoria que agente não conhece e que tem acontecido na atualidade, por exemplo a estoria da batedeira que o Arthut inventou. Ja pensou os filhos dele lendo essas peripécias do pai, ehehe.

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  2. Também esqueceu do pudim de pão e do pão de minuto. E as pizzas! E os banquinhos estavam errados: numero um amarelo, dois verde, tres azul, quatro cinza e o cinco vermelho. E eu não inventava estórias nas divisões de rações, não :(
    Nos remédios, tinha o cachecol, ou lenço, com alcool, para dor de garganta. Eu era fregues deste, até tirar as amigdalas. Tinha até um lenço que eu usava e me imaginava um cowboy.
    Muito maravilhoso este blog.

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  3. Oi Naldo,
    Só você mesmo!! Eu gargalhei sozinha agora :-)))
    Imperdoável esquecer o pudim de pão e pão de minuto e o lenço no pescoço, realmente!!
    Mas, que você inventava estórias para ganhar mais no seu pacotinho ah isso é verdade, tem 6 testemunhas disso!
    Quanto ao cowboy eu não sabia, você podia escrever essa estória,
    Amei você comentar!!
    Obrigada, meu irmãozinho meu amor!!

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  4. Rosa, você é a minha maior motivação para escrever, pois tenho certeza que vai ler, curtir e comentar, obrigada!!
    A minha intenção é escrever dessa época da nossa infância, à medida que me lembro das estórias e depois escrever sobre todas as crianças. Aliás, você também pode escrever!! É legal saber das estórias sob diferentes pontos de vista! Anime-se suas colaborações serão super bem vindas!! Aliás, de todos!!
    Acredita que lembrei desse doce de batata, mas não soube como descrever, era muito diferente, não é? Foi legal você citar!
    Obrigada por comentar, animar, me ajudar, elogiar, por tudo!!
    Minha cunhadinha, meu amor!!

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  5. Ah Naldo, esqueci de falar. Quanto aos banquinhos escrevi errado de propósito pra ver se vocês acordavam HEHEHE!! Viu? funcionoui!!!

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  6. Ah Rosa, você poderia escrever o óóóóóó usado para cumprimentar as pessoas por algumas pessoas da família e outras coisas como o 'r' em porrrrrta, por exemplo e outras coisas da família.

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  7. Naldo, você esqueceu da charlote, lembra? Hoje tava comendo bolacha champagne e quase morri de vontade quando lembrei, HUUUUMMMMMM!!!!
    Alguém tem a receita? lembro que tinha groselha, um creme de chocolate, lembram?
    MUUUIIIITOOOOOOO BOOOOOMMMMMMMM!!!

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  8. ahhhh por isso que minha mãe gosta tanto de marzipan... hehehe
    ahhhh... a torta de limão... Não exite melhor!
    Fora o brigadeiro, feito com o leite condensado cozido. Nem o da Ivete é tão bom!!!

    bjs,
    Ju.

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  9. Quem é Ivete?
    É você descobriu o por que de gostar marzipan, é isso aí, bingo!!
    Quanto à torta, pergunta pro número 6.
    Já o bolo de berinjela, o licor de figo e o doce de mamão verde, pergunte pro número dois.
    O doce de abóbora é comigo e Naldo, mas sem cravo e coco né Naldo? Sençao vira doce de cravo ou de coco. Quando a número 7 via a mãe fazer o doce de abóbora ela dizia: já sei a número cinco vem pra Jundiaí nesse fim de semana, né?
    verdade número sete?

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  10. E A SOPA DE FEIJÃO COM OVO E MACARRÃO?

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