quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Geny a artista

Havia sempre um ambiente muito alegre em nossa casa. Sempre tinha alguém cantando ou ouvindo discos tocando na vitrola. Lembro de acordar, nos finais de semana, ouvindo Nat King Cole tocando  na vitrola, um dos preferidos da nossa mãe. Durante a semana, enquanto nossa mãe trabalhava e nós ficávamos com a Zezé em casa, ouvíamos: The Beatles, The Mamas and the Papas, Chico Buarque e Caetano ao vivo, o disco "Falso Brilhante" da Elis Regina ou até mesmo um disco de piadas do Juca Chaves que eu já sabia de cor e salteado, dentre outros.
Nossa mãe era apaixonada pelo Chico Buarque de Holanda. Quando ele compôs a "Ópera do Malandro", ela comentou: tinha certeza que um dia ele faria uma música em minha homenagem, mas não precisava ser essa. Isso devido ao fato de seu nome ser Geny e à letra da música "Geni e o Zepelim". Geni, nessa obra, era uma prostituta travesti, portanto, sempre interpretada por homens e odiada por desviar os homens do" bom caminho". Para ter uma idéia do que ela queria dizer leia esse trecho da música:


"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!

Maldita Geni!"


 O leitor poderá obter maiores informações sobre essa obra no seguinte endereço na Internet:
http://www.estacio.br/rededeletras/numero2/persona/opera.asp
Para ouvir a música e conhecer a sua letra completa acesse o link:
http://letras.terra.com.br/chico-buarque/77259/


Essa música lhe custou muitas brincadeiras, mas também rendeu muita risada, pois nos divertimos muito com tudo isso.
Uma das formas de ela passar o tempo com a gente era cantando. Eu sempre pedia para ela cantar a música a qual eu me referia como a música do circo.
http://www.youtube.com/results?search_query=circo+de+cavalinhos&aq=f
Desculpem, mas essa é a única interpretação que existe na Internet dessa música. Adorava ouví-la cantar, me divertia demais.
Certa noite, pedimos à minha mãe que cantasse a música a qual nos referíamos como a do carteiro. Na verdade, é um samba canção de Aldo CAbral e Cícero Nunes, cujo nome é "Mensagem" de 1946, interpretada por Izaura Garcia. Para conferir, acesse o endereço na Internet:
http://letras.terra.com.br/maria-bethania/112663/
O início da música era:
Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou
Com uma carta na mão
Ah! De surpresa, tão rude,
Nem sei como pude chegar ao portão
Lendo o envelope bonito,
O seu sobrescrito eu reconheci
A mesma caligrafia que me disse um dia
"Estou farto de ti"



O final:
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais



Nossa mãe acabou de cantar a música, minha irmã número sete que a ouvia pela primeira vez, olhou assustada e com cara de decepção perguntou: mãe, ela não leu? Todo mundo olhou assustado para ela sem entender nada. Então nossa mãe respondeu: quem não leu? e não leu o que? Ela respondeu: a carta!! Demorou um pouco, mas, sem acreditar, finalmente, entendemos do que se tratava a pergunta, se tratava da música. Enquanto nossa mãe cantava ela estava atenta e curiosa para saber o que estava escrito na carta, e a personagem, além de não ler ainda a  rasgou. Ou seja, nem ela nem a número sete saberiam o que estava escrito e ela estava inconformada... pode?
Todo mundo começou a rir, só então ela entendeu o absurdo da sua pergunta. Até hoje rimos quando nos lembramos desse episódio.
Todas as vezes tinha alguém que pedia: mãe, canta a música do avental todo sujo de ovo? 
http://letras.terra.com.br/toquinho/1348098/
Sempre que ouvia essa música, meu irmão número seis chorava. Então, alguém só pedia para nossa mãe cantar essa para vê-lo chorar. Assim são os irmãos! Só quem não os tem não sabe!
Minha mãe e seus dois irmãos: Gê e Guara tinham um rancho na represa de Atibaia. Tenho inúmeras ótimas lembranças dos momentos que vivemos lá. Íamos todos juntos: nossa família, a família dos meus tios, meus avós, amigos, namorados, gatos, cachorros, papagaios,periquitos, etc.
Certa noite, tio Guara nos levou: minha mãe,eu, mais meus dois irmãos mais novos para lá. Lembro-me bem do céu que estava todo estrelado, lindo. Quando nossa mãe foi preparar o jantar, descobriu que o gás havia acabado. Os dois não tiveram dúvidas: fizeram uma fogueira no quintal. Enquanto minha mãe preparava o melhor creme de cebola do mundo, ela e o meu tio cantavam, contavam piadas e bebiam. Eles tinham muita influência italiana da nossa bisavó Rosa, então falavam e cantavam muito alto. Importante ressaltar que não tinham problemas com alcoolismo. Ninguém passou mal. Pelo contrário, essa é uma recordação de uma noite maravilhosa. Os problemas eram resolvidos assim: com muito bom humor e alegria. .Eles tinham muito amor e carinho entre si e com todos nós. Uma característica importante nessa família é que não existiam sobrinhos, todos éramos tratados como filhos por todos os adultos. As crianças os respeitavam a todos como pais. Todas as noites agradeço muito por ter vivido momentos mágicos como esse que me fizeram uma pessoa muito feliz.

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