quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O número Três

Hoje é a vez de falar do meu queridíssimo irmão número três. Peço desculpas pela demora que se deve à grande responsabilidade que é falar e publicar sobre uma pessoa amada. Hoje, finalmente me sinto inspirada para essa missão quase impossível.
Amo muito esse meu irmão número três, acredito até que ele nem imagina o quanto. Sinto-me triste e às vezes até mesmo frustrada pelo fato de a vida ter nos afastado bastante. É uma coisa comum que acontece hoje em dia com as pessoas em geral em nossa sociedade mas, como o amor e as lembranças não precisam pedir licença vou tentar descrever sentimentos e fatos que ainda nos ligam fortemente, assim como aos outros todos igualmente queridíssimos e amados irmãos.
O número três é um anjo que veio ajudar as pessoas, disso não tenho a menor dúvida. O interessante é que até a imagem que ele chegou à Terra é de anjo: ruivo com cabelos encaracolados, fofinho e cheio de sardas. Essa imagem eu conheço somente de fotos já que ele chegou aqui quatro anos antes de mim. Ele era uma criança diferente e linda e suas fotos pareciam pinturas artísticas.
Ele é inteligentíssimo, nossa mãe adorava contar que quando estava no curso primário, o diretor da nossa escola “Grupo Escolar Marcos Gasparian”, o Sr. Ferrari costumava compará-lo ao Dr. Rui Barbosa dizia: igual ao Dr. Rui Barbosa existe somente um, o Aguinaldo. Imaginem o orgulho dela quando o ouvia falar assim de um dos seus filhos. Até onde sei ele passou em quase todos os concursos que prestou, quase porque conheço somente um vestibular que foi reprovado, muitas vezes até em primeiro lugar: Colégio Técnico Jundiaí”, Petrobrás, INPS, INPE, etc.
Lembro quando éramos criança e eu filha caçula, meu pai tinha um carro antigo da Ford e meu sonho, na época, acreditem era que ele comprasse um carro mais moderno, o fusca!! Costumávamos ir para Santos. Durante o caminho na estrada, o número três fazia uma caminha no canto do banco traseiro para eu ir dormindo ao seu lado. Essa é uma das melhores lembranças que guardo me faz voltar no tempo vivendo esse momento e sentindo o calorzinho do seu aconchego.
Certa vez, durante uma briga feia entre irmãos, perdi totalmente o controle e chorava compulsivamente, e lá estava o número três para me acalmar, sempre ele!!
Em 1977 vim estudar em São José dos Campos, o número três fazia cursinho pré-vestibular e morava com o número dois. E lá estava ele sempre me levando ou buscando na escola, ou para fazer trabalhos, ou para Jundiaí nos finais de semana, sempre cuidando e protegendo!!
Como anjo que é, tem seu lado infantil claro. Nossa mãe, quando comprava balas, doces ou bolachas encarregava aquela a mais nova, a número sete para dividir igualmente em sete partes e distribuir os pacotinhos. O número três, na maior cara de pau dizia que não tinha recebido a parte dele para ganhar mais do que os outros. O pior é que ele representava tão bem o coitadinho, que muitas vezes deixava nossa mãe em dúvida. Lembro-me de muitas vezes ficarmos assistindo a jogos de basquete e vôlei, filmes na TV até a madrugada do dia seguinte. Lá pelas tantas, quando a fome se manifestava, ele fazia pipoca. Quando íamos pegar a pipoca dele ainda na panela, ele dava tapinhas nos nossos braços, assim encostávamos o braço na panela quente fazendo pequenas bolhas, até hoje tenho cicatrizes nos braços que não me deixam nem mentir e nem esquecer esses episódios de tirania de irmão. Mas, também, adoro lembrar quando o seu grande (literalmente e no sentido figurado) amigo Salvador o acordava cedinho colocando tomate frio na sua barriguinha!!! Ele acordava super bravo, era bem legal! Nessa época ele participava de encontros da juventude aos sábados na igreja. Depois, como faz também faz parte das atribuições de um anjo, me ensinava algumas músicas. Uma das que ele vivia cantando era uma das minhas preferidas: a oração de São Francisco (... pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna...). Hoje o tipo de brinquedinho que gosta são as últimas novidades tecnológicas, ele sempre tem que ser o primeiro a ter senão não tem sossego. Outro tipo de brinquedinho que gosta são os objetos antigos de família, não deu sossego enquanto não conseguiu o relógio de parede que foi de nosso avô materno, fotos de família e até receitas das delícias que nossa mãe preparava... Como uma criança, adora se gabar!! É, realmente, uma peça raríssima, uma preciosidade!!
Nossa mãe dizia que ele adorava tomar banho, e se ela se descuidasse ele voltava para a banheira de roupa e sapato.
Nossa mãe contava que aos três anos mais ou menos ele fugiu de casa. Ela só se deu conta quando tocaram a campainha e uma senhora, de mãos dadas com ele, perguntou se era filho dela, pois ela havia o encontrado no centro da cidade no meio da praça sozinho. Então ela achou que era filho da minha mãe e que seria melhor levá-lo de volta para que ele não fosse roubado.
Legal eram as pescarias que ele inventava de fazer em Caraguatatuba. Ele juntava toda a tralha e lá iam ele, o número seis com a namorada e a número sete. Voltavam de madrugada sem peixe algum, mas de cara cheia de cachaça isso sim!
Uma das provas mais fortes de que ele é anjo e veio para nos amparar, aconteceu na ocasião do falecimento da nossa amada avó que morava com minha mãe. Esse meu irmão, na época desempregado e morando em Lorena, arrumou emprego em Campinas e foi morar com minha mãe. Ele morou pouquíssimo tempo lá, durante um mês aproximadamente, mas, tenho certeza, que foi mais uma vez para ajudar a minha mãe a passar por esse momento tão difícil da vida dela e da gente.
Quando minha mãe ficou doente, após passar um período de tempo em minha casa, ele mais uma vez cumpriu se destino de anjo e, junto com a anja da guarda de minha mãe, minha cunhada, a levaram para a casa deles. Minha mãe foi privilegiada, pois não teria recebido cuidados melhores em nenhum outro lugar do mundo. Eles a trataram como a rainha (no melhor dos sentidos) que era, com todo amor, carinho, cuidado e a seriedade que merecia. Isso jamais poderei retribuir.
Aliás, a vida dele com a sua família atual é muito linda, mas é uma história que pertence a eles. Peço licença para sua filha apenas para registrar aqui uma passagem linda sobre uma cartinha escrita por ela e onde ela se refere a ele como seu pai cor de abóbora, não é lindo?
Hoje é dia de finados. Quero dedicar esse post à lembrança da nossa mãe que, tenho certeza, está feliz vendo que, aos poucos, estou registrando momentos tão importantes de nossas vidas.
Beijos e até a próxima!!
Olha, que a próxima que é a número quatro tem muuuuuuiiiiitaaaaaaaaaaa história e vai me dar trabalho. Portanto, tenho que me recuperar e me preparar bastante para o próximo post! Assim, já peço desculpas por antecipação, já que deve demorar bastante, pelo tanto de inspiração que terei que ter!! HEHE...